Saudação: Sr. Núncio Apostólico, Arcebispos e Bispos, D. Manuel, agentes de pastoral, famílias da diocese e povo de São Tomé e Príncipe.
Serve a presente Assembleia da CEAST em terras de São Tomé e Príncipe, para confirmar uma realidade que as dioceses de Angola e São Tomé e Príncipe vivem há já muitos anos, desde a nomeação de D. Abílio Ribas para Bispo desta multissecular e veneranda diocese de que faziam parte Angola e Congo num passado longínquo. Angola está habituada a ver o Bispo de São Tomé em Angola, mas os fiéis e o povo santomense nunca viram os Bispos de Angola em São Tomé (como reza a sigla CEAST). Encontrar a diocese de São Tomé e Príncipe na sua realidade eclesial e social, era sonho também dos Bispos de Angola, sonho que, finalmente, desta vez, se realiza.
Não duvidamos que seja também uma grande alegria para os santomenses este partilhar a vida e a realidade eclesial, social, económica, política de Angola na pessoa dos seus pastores, presentes, fisicamente, em São Tomé.
O encontro com a Igreja de Cristo em São Tomé e Príncipe por parte dos Bispos angolanos irá reforçar ainda mais os laços que nos unem na fé, esperança e caridade e, pastoralmente, contribuirá para uma maior cooperação, solidariedade, comunhão e unidade, apesar da diversidade dos contextos de Angola e São Tomé e Príncipe.
Ficará mais claro que formamos uma e única Conferência Episcopal. Colaboramos para acções pastorais conjuntas, para a elaboração de planos pastorais trienais para os dois países.
A presente assembleia da CEAST, a primeira de 2014 e também a primeira fora do território angolano, servirá, igualmente, de ocasião para fazermos balanço do passado triénio pastoral, que foi dedicado ao tema da Família (2011 – 2013), e iniciarmos o novo triénio, centrado sobre a Nova Evangelização, após a rica experiência da vivência do Ano da Fé, encerrado na Festa de Cristo Rei do Universo, a 24 de Novembro de 2013.
O tema da Família, pela sua importância e urgência para a Igreja e a sociedade humana, continua no centro da vida e missão da Igreja universal. A ele são dedicados os próximos dois Sínodos: o de 2014 e o de 2015, segundo intenção do Papa Francisco.
O triénio pastoral da CEAST sobre a Nova Evangelização recebeu um grande impulso do Santo Padre o Papa Francisco que convidou a Igreja inteira a uma nova etapa de evangelização, com a Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” (A Alegria do Evangelho).
A CEAST escolheu para primeiro ano do triénio, que já estamos a viver, o subtema: “Missionários enraizados em Cristo”, pois, a evangelização não acontece sem evangelizadores evangelizados, isto é, que vivam em Cristo, anunciem Cristo e O testemunhem.
O Papa Francisco, no II Capítulo da Exortação “A Alegria do Evangelho”, referindo-se aos agentes pastorais, encoraja-os a não deixarem roubar o entusiamo missionário, a não deixar que se lhes roubem a alegria da evangelização, nem a comunidade, ou o Evangelho e, muito menos, o ideal do amor fraterno.
A missão da Igreja é uma e sempre a mesma. O que Cristo e a comunidade humana esperam do testemunho dos crentes em São Tomé e em Angola é o mesmo: ver o homem mais livre, mais feliz, menos sufocado pelas várias vicissitudes por que temos passado, e, sobretudo, mais unido a Jesus Cristo e, n’Ele encontrar o Salvador.
As mensagens da CEAST sobre a defesa da vida, a preocupação pelas questões sobre a natalidade, a família, a juventude, o bem comum da sociedade, etc, são disso exemplo claro.
A evangelização diz respeito a todas as áreas da vida humana: realidade política, sócio-económica, sócio-cultural, religiosa, etc…
Em Angola, são sinais positivos, nestes últimos anos: a reconstrução do país, restaurando a imagem desoladora que a guerra e as suas consequências haviam emprestado à Nação angolana, procurando a estabilidade macro-económica do país; o empenho pela consolidação da democracia, a paz e a reconciliação nacional (obra de todos: governo, partidos políticos, sociedade civil, igrejas).
Mas há ainda muito por fazer quanto a uma maior consciência dos Direitos Humanos por parte dos cidadãos; o despertar de muitos políticos, dirigentes e empresários para o valor da fé, os valores éticos, morais e espirituais e a dignidade da família, o surgimento de Associações cristãs laicais que ajudem aos pastores a encontrar as melhores soluções para os muitos desafios que se colocam à missão da Igreja na sua dimensão social, na hora actual, para a sua contribuição para o surgimento de países que caminhem rumo ao verdadeiro desenvolvimento sustentável.
Realidade política:
Democracia e pluripartidarismo estão reconhecidos por lei em Angola mas a sua prática tem diante de si um longo caminho a percorrer com vista a uma boa governação (não sei o caso de São Tomé e Príncipe): Bastaria referirmo-nos aos tristes acontecimentos que tiveram lugar no último trimestre de 2013 e que ainda não encontraram a justa solução junto da autoridade competente, e referir-nos a uma democracia onde o pluralismo de imprensa escrita e falada, no verdadeiro sentido da palavra, deixa muito a desejar, já que notamos, há vários anos, um défice nos meios de comunicação social, bem patente, por exemplo, na falta de mais Rádios independentes com cobertura nacional (com destaque para a própria Rádio ecclesia), para não falar de Televisões e magazines independentes a vários títulos e que sejam extensivos a todo o país.
Continua grande o desafio quanto ao tema da reconciliação nacional para atingirmos a verdadeira paz dos corações, a paz e a justiça social e, assim, ultrapassarmos o simples e insuficiente “calar” das armas para uma paz duradoira no nosso querido país, sem mais qualquer discriminação social a nível partidário, racial, étnico e religioso.
Na realidade sócio-economica, se por um lado aumenta o número de empresários que investem sempre mais em Angola, aumenta, por outro, o fosso, cada vez mais profundo, entre ricos e pobres; são sempre maiores as dificuldades quanto à transparência nos concursos públicos, nalguns casos com valores exagerados na execução das obras, na qualidade de algumas, e a especulação de preços em bens e serviços.
Continuam, na prática, os gritantes esquecimentos e assimetrias no desenvolvimento, com particular relevo para as periferias das grandes cidades e as localidades mais afastadas das capitais de província ou mesmo da capital do país, Luanda. E que dizer da questão do visível desfasamento entre a actividade económica e a ética, que deveriam desenvolver-se conjuntamente para favorecer um desenvolvimento equilibrado e integral da pessoa humana?
No domínio da realidade sócio-cultural, continua pertinente e urgente o desafio da instauração de um processo que vise a recuperação dos verdadeiros valores universais, humanos, cristãos e tradicionais, a fim de se prevenirem as consequências da sua falta no comportamento social da população, sobretudo na camada mais jovem, de que são expressão o aumento da criminalidade, a delinquência infanto-juvenil, a prostituição, a violência doméstica, a falta total de escrúpulos diante de tudo que seja uma anomalia social, um certo sadismo, uma dose grande de insensibilidade perante a dor alheia.
Realidade religiosa
Nota-se uma inflação de confissões religiosas, com convivência nem sempre pacífica e um testemunho de vida muitas vezes nada conforme com os valores do Evangelho. Muitos, em nome de Deus, vêm com palavras, gestos e acções simuladas, escondendo o verdadeiro objectivo, a razão última da sua presença, chegando a enganar as populações com falsas promessas ou curas, fazendo com que elas percam tempo e dinheiro, e, às vezes, a própria vida, quando no hospital poderiam ser ajudadas de maneira mais eficaz. A mentalidade mágico-feiticista e suas nefastas consequências para a convivência social…
Qual deverá ser o nosso contributo de Igreja em tornar as nossas sociedades, angolana e santomense, mais justas porque mais cristãs, mais evangelizadas e, por isso, mais evangelizadoras?
Conscientes de que o papel do laicado é incontornável neste processo de transformação da Igreja e da sociedade, o subtema do segundo ano do triénio pastoral da CEAST, “Reavivar a fé em Cristo nos fiéis”, estará no centro da Agenda de trabalhos da presente assembleia, a decorrer cá em São Tomé e Príncipe. O terceiro subtema dedicado a “Tornar a paróquia centro da evangelização”, ocupará a atenção da CEAST em próximas assembleias.
Viver em Cristo, anunciar Cristo e testemunhar Cristo, é o objectivo do primeiro ano: 2014. Será um ano para manter vivo o dom do Espírito, “reavivar o dom da evangelização que implica vida, acção e testemunho” (n. 15 da Mensagem da CEAST, ‘Missionários enraizados em Cristo’, Outubro de 2013).
“Necessitamos urgentemente de reavivar os dons de Deus na Igreja angolana e santomense, sobretudo de reacender a chama do baptismo, do ministério ordenado, da consagração e do serviço, nos seus agentes pastorais: bispos, presbíteros e consagrados/as, para sermos uma Igreja mais profética, mais comprometida com os mais pequeninos, os abandonados, os pobres e a juventude, porque tem sempre Cristo como modelo na sua acção missionária.
Caros diocesanos santomenses e angolanos, acompanhai-nos com a vossa oração para o bom êxito desta assembleia da CEAST, que tenho a alegria de declarar aberta, certo da assistência de Maria, a Estrela da evangelização e, sobretudo, do Espírito Santo, protagonista da Missão da Igreja.
Muito obrigado pela vossa atenção e oração, ao mesmo tempo que formulo para todos vós, votos de Santa Quaresma! Bem haja!
São Tome, 12 de Março de 2014
Dom Gabriel Mbilingui, Presidente da CEAST
Fonte: CEAST – Conferência Episcopal de Angola e São Tomé